quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Longevidade e outros negócios - Nuno Pacheco

Ipsis verbis aquilo que penso sobre Hugo Frías Chavez e todos os ditadorzecos que polulam por este nosso planeta...
Longevidade e outros negócios
Nuno Pacheco
Olhar para o poder em ciclos de dez anos é já bastante confortável para um político de carreira, mas vê-lo em décadas renováveis é um luxo a que poucos se podem dar. Hugo Chávez, por exemplo. Eufórico, talvez inspirado no Mostrengo de Pessoa ("Aqui ao leme sou mais do que eu: sou um Povo que quer o mar que é teu"), exclamou: "Eu já não sou eu, eu sou um povo, pertenço-vos. E se o povo venezuelano decide que governarei até ao ano 2050, governarei!" O mar de gente exultou. Afinal, não é extraordinário poder desfrutar da companhia de Chávez até ele ter... vejamos, 96 anos? Não é espantoso poder contar com um líder assim, disponível para se multiplicar por décadas com a mesma facilidade com que abraça o frágil Fidel?O que lhe falta? Muito, diz ele: "Agora começa o período 2009-2019 e depois 2019-2029, 2029-2039, 2039-2049." Houve logo, naturalmente, quem viesse acusá-lo de ditador. Tanto melhor para ele. Na verdade, se conseguir os votos que pretende para se tornar perpétuo, isso será, mais do que um golpe político, um elixir da juventude. Porque, reza a história, já vários ditadores morreram no seu posto, eternizando-se até a saúde lhes pregar a inevitável e fatal partida. No dia a seguir ao enforcamento de Saddam (que não teve a sorte de morrer no cargo, como se viu), a Agência France-Press fez um apanhado dos que aqueceram a cadeira até quase ao último suspiro: Estaline, traído por um derrame cerebral; Mao, finado por "causas desconhecidas" aos 82 anos; e Salazar, Franco e Kim Il-Sung por fragilidades de corações que eram duros noutras coisas.
Para Chávez será, calcula-se, a via mais à mão para se imaginar eterno. Mas qualquer vulgar cidadão tem formas de perpetuar a existência, mesmo que de maneira puramente ilusória. Vejam-se os bilhetes de identidade: quem os renovou, por exemplo, em 2006, pode ler no verso, como prazo de validade, 2017. E se o cartão o garante, quem somos nós para contrariá-lo? A ele ou à Carta de Condução, por exemplo, que nos concede mais uns largos aninhos? Mas além dos cartões, com datas de caducidade por vezes bem generosas, há métodos ainda mais eficazes: os empréstimos para habitação, por exemplo. Há-os a 15, 20, 35 ou 40 anos, o que, somado à idade de quem os pede, dá bonitas somas, às vezes irrealizáveis. Mas enfim: é bonito ver impressa uma data em que é suposto um sujeito estar vivo, mesmo que o futuro a torne caduca mais cedo.
Será um bom negócio, o de fingir vida longa com tais truques? Para Chávez talvez seja, embora por motivos que hão-de atormentar os seus concidadãos. Mas há negócios igualmente rentáveis, embora mais estranhos. Uma jovem estudante norte-americana de 22 anos resolveu, por instinto sociológico, pôr à venda a sua virgindade num leilão cibernético. A princípio queria só saber como reagia o seu, digamos, "público-alvo". Mas agora mudou de opinião e talvez aceite mesmo sujeitar-se à licitação mais alta (há um empresário australiano que oferece quase 3 milhões de euros pela "experiência"). Se a moda pega, o século ganhará um novo tipo de "negócio", em desleal concorrência com os velhos bordéis.A par desta sórdida perspectiva, outro negócio se insinua possível: o dos sapatos-arma. Depois de Bush ter sido alvejado com dois, no Iraque, ontem alguém atirou com outro, mais desportivo, ao primeiro-ministro da China durante uma conferência em Cambridge. Não tarda, haverá quem fabrique sapatos já com aerodinâmica e peso destinados à função. Substituiriam nas contendas, com vantagem, balas e rockets. Que matam muito, mas não se calçam. Jornalista

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