quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O dever de regatear - MEC

O dever de regatear
Miguel Esteves Cardoso

2009-02-04

Há muitas culturas em que é um insulto não regatear. Nós, armados em finos, achamos que é uma peixeirada. Nós estamos enganadíssimos. Há muitas culturas em que é um insulto não regatear. Nós, armados em finos, achamos que é uma peixeirada. Nós estamos enganadíssimos. E nós não vamos longe se nós continuarmos assim. A nossa pobreza envergonhada é má para a nossa economia. Armarmo-nos em ricos mas não comprarmos ou vendermos porque não ajustámos os preços é que é uma desgraça.

É urgente regatear. O vaso custa 500 euros. Ofereça 200. Discuta o preço. A primeira coisa que descobrirá é que os lojistas gostam de regatear. E não é só porque vendem mais coisas, em vez de ficarem ali com o dinheiro escrito na etiqueta, por muito impressionante que seja a quantia.
Regatear humaniza. Aproxima as pessoas. Estamos todos no mesmo barco e é bom reconhecê-lo e fazer graça (e negócio) com isso. É tirar partido da situação e aproveitar melhor os recursos disponíveis. Regatear é democrático; desfaz a poeirenta pseudo-hierarquia do cliente e do vendedor e recoloca ambos num mesmo plano de igualdade. É por isso que não regatear ofende: é recusar "descer ao seu nível"; é desdenhar qualquer comunicação; qualquer intercâmbio que não seja a troca de bens por dinheiro.
Nem se pense que há coisas que não são regateáveis. Façamos com as coisas pequenas (torradeiras e rosas) o que fazemos com as grandes (casas e carros). Regatear é um dever porque movimenta dinheiro que doutra forma ficaria parado. Mas também pode ser um prazer para quem gosta de jogar e, sempre que pode, ganhar.
E quem não quiser regatear, olhe, que leve a taça.

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