Um dos mais famosos provérbios portugueses diz: “uma mentira dita muitas vezes passa a ser verdade.” A mentira de que o Benfica era um clube protegido por Salazar tem sido dita muitas vezes com o objectivo duplo de menorizar as vitórias passadas do clube e modificar a história do futebol Português e, mesmo, de Portugal. Veremos de seguida os factos que desmentem por completo esta calúnia.
Portugal
Em 2008, data de publicação deste artigo, o Campeonato Português de Futebol conta com 73 edições, 31 ganhas pelo Benfica. António de Oliveira Salazar liderou Portugal entre 1933 e 1968. Desde da época 1933/34 a 1968/69 passaram 35 temporadas. Nesse tempo o Benfica venceu 14 campeonatos, o Sporting venceu 12 e o Porto 8. Assim sendo, de 31 títulos, o Benfica conquistou 14 enquanto Salazar esteve no poder e 17 sem Salazar. Tem-se de assinalar que o Sporting venceu apenas 6 vezes sem Salazar. Ou seja, em termos percentuais, cerca de 64% dos títulos do Sporting foram conquistados com Salazar no poder, ao contrário do Benfica, com cerca de 45%.
A época dourada (em termos internos) do Benfica coincide com o período mais esquerdista de Portugal, 1970-1980. Em 10 edições do campeonato, na década de 70, o Benfica conquistou 6 e conseguiu fazer dois campeonatos sem perder um único jogo. De realçar, que nos 20 anos seguintes à revolução de Abril, o Benfica venceu 10 campeonatos e 7 Taças de Portugal, contra 8 campeonatos e 5 taças ganhas pelo Porto e 2 campeonatos e 2 taças conquistadas pelo Sporting. Elucidativo…
Também nas 84 edições da taça de Portugal o Benfica venceu 27, 14 sem Salazar e 13 com Salazar. Mais uma vez, com ou sem Salazar, o Benfica mantém a senda vitoriosa.
Europa
Em termos Europeus, o Benfica conta com 8 finais europeias (7 na taça dos campeões europeus e uma na taça uefa) e duas meias-finais (taça das taças). Venceu ainda a taça latina e uma edição da taça ibérica (em 83/84). Estes dados mostram o poderio do Benfica quer em Portugal, quer na Europa, na era Salazar e no pós-Salazar. Relembro que a final da Taça Uefa foi em 1982/83 e a última presença na final na Taça dos Campeões Europeus foi em 1987/1988. Estas duas finais estão bem longe do período de influência de Salazar…
Curiosidades
Quem não conhece a história do Benfica pode pensar que o seu hino de sempre é a música de Luís Piçarra, mas isso não corresponde à verdade. O hino oficial do Benfica, composto por Bermudes, chamava-se “Avante Benfica” e foi censurado por Salazar por ser entendido como uma afronta ao seu poder.
Miguel Sousa Tavares, adepto portista reconhecidíssimo, no seu best seller Rio das Flores, apresenta um excelente trabalho acerca da evolução das ditaduras de direita na primeira metade do século XX. Miguel Sousa Tavares não podia ser mais explícito, e dada altura, refere: “Sporting era o clube do regime”. Contudo, Salazar aproveitou-se das vitórias do Benfica para se promover e credibilizar como faria qualquer ditador.
Na história do Benfica contam-se imensos dirigentes que lutaram contra o fascismo de Salazar. Manuel Conceição Afonso, Félix Bermudes (o autor do hino censurado), Tamagnini Barbosa e Júlio Ribeiro são alguns desses exemplos. Mais, este último declarou publicamente que não se recandidataria à presidência do clube porque, precisamente, sabia estar a prejudica-lo junto do poder central. Para finalizar: José Magalhães Godinho, conhecido opositor do regime, foi o primeiro director do jornal do Benfica.
O estádio das Antas (FC Porto) foi inaugurado dia 28 de Maio (dia comemorativo da revolução que deu origem ao estado novo). Quando o Benfica foi ocupar o campo 28 de Maio (onde jogava o Sporting) muda o seu nome para estádio do Campo Grande.
O Benfica foi obrigado a jogar a final da taça de Portugal em 1961/62 em casa do adversário (Vitória de Setúbal) um dia depois de o Benfica ter vencido o Barcelona na final da Taça dos Campeões Europeus. Os 15 jogadores que estiveram nesse jogo estavam em viagem no dia do jogo em Setúbal em que o Benfica perdeu 1-0.
Em 1954/55 O Benfica apesar de campeão não foi indicado para a Taça dos Campeões Europeus porque naquela altura os clubes eram sugeridos pelas entidades nacionais responsáveis e o Benfica, mesmo sendo campeão, foi preterido em favor do Sporting.
“Cegos não são os que não vêem, mas sim os que não querem ver”