sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Línus (Charlie Brown) vs Constança
A minha filha mais nova (Constança) é tal e qual o Línus do Charlie Brown, anda sempre com o seu cobertor azul atrás, não chucha no dedo mas chucha na dita chucha é mesmo engraçado vê-la casa fora com o seu "bertor" e de súbito se deitar no chão e dizer "nana". Estas situações ajudam os pais a relaxar.
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Coisas Engraçadas,
Filhas
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Loira e Burra
Esta loira em final de carreira, dedicou-se agora a dizer mal de Portugal. Entristece-me na medida em que esta "senhora" fez as delícias quer minhas quer dos meus colegas, à data, do 8º ano quando numa qualquer novela (pouco interessava qual, não é pessoal?) apareceu montada a cavalo tal qual tinha vindo ao mundo. Como actriz não se lhe conhece qualquer trabalho relevante fora da Globo, ao contrário, da Sónia Braga que fez carreira em Hollywood.
Além de pouco civilizada, pois cospe para uma fonte de um momumento classificado de património da hummanidade, qual criança mal comportada, esta moçinha mente, pois diz que nos hóteis de cinco estrelas portugueses não se conheçem os ratos de computador e que são os porteiros quem resolvem os problemas informáticos, não sei em que hotel a dita moçinha esteve mas com toda a certeza deve ter sido num de uma qualquer favela à escolha daquelas que rodeiam a dita "Cidade Maravilhosa" do Rio de Janeiro.
Por fim, ela é loira e burra de facto pois desconheçe que aquela a que chama vilazinha é Sintra (outro local classificado de património da humanidade).
P.S. - Maitê, queridinha, aqueles portateis da Barbie são de mentirinha (como dizem os brasileiros) por isso você não conseguiu enviar o seu e-mail.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
A ética será republicana?
A ética será republicana?
Por Helena Matos
A república que somos será mais ética por ter entre os seus políticos quem não veja nela um atestado de impunidade
Esta é uma ideia cara aos nossos presidentes da República que, perante o calendário de feriados predominantemente religiosos, fazem questão, uma vez chegado o 5 de Outubro, de recordar ao país a importância da ética republicana. Cavaco Silva não foi excepção. Não duvido que os presidentes da República que temos tido defendam a ética da República, mas daí a dizer-se que existe a ética republicana vai um passo demasiado largo. E no caso português perigosamente largo. Em primeiro e mais óbvio lugar porque não é o facto de o regime ser republicano ou monárquico que o torna mais ou menos ético. Portugal é uma república e a Suécia e a Holanda monarquias, mas no que à ética da vida política e pública respeita temos muito a invejar aos súbditos de Carlos Gustavo e de Beatriz. Em segundo lugar esta associação entre a ética e a natureza republicana do regime envenenou-nos todo o século XX e ameaça-nos o XXI, pois incapazes que somos de dissociar a ética da República esquecemo-nos da primeira para não nos malquistarmos com a segunda. A nossa incapacidade de debatermos o regicídio, a noite sangrenta ou, no pós 25 de Abril de 1974, a descolonização resultam em grande parte desta atávica associação entre a natureza do regime e a ética da sua classe dirigente. Onde estava em Novembro de 1975 a ética dos militares e políticos portugueses que, como relata Leonor Figueiredo no seu livroFicheiros Secretos da Descolonização de Angola, deixaram para trás nas prisões e campos de concentração de Angola cidadãos portugueses que tinham sido raptados pelo MPLA?
Enquanto os factos menos nobres praticados na República, a corrupção e o falhanço da justiça, continuarem a ser vistos como notas de rodapé na exaltação mais ou menos folclórica da ética republicana, continuaremos reféns daquela divisão jacobina do mundo que envenenou a I República e que, de sinal contrário, se prolongou no Estado Novo, aí com a tentativa inversa de transformar em boa a ditadura com o argumentário da honestidade pessoal de quem a chefiava. A República que somos será mais ética não por ser república mas sim por ter entre os seus políticos e na sua administração quem não veja na condição republicana (tal como outrora o viram na condição monárquica ou em "ser da situação") um atestado de impunidade.Ensaísta
Por Helena Matos
A república que somos será mais ética por ter entre os seus políticos quem não veja nela um atestado de impunidade
Esta é uma ideia cara aos nossos presidentes da República que, perante o calendário de feriados predominantemente religiosos, fazem questão, uma vez chegado o 5 de Outubro, de recordar ao país a importância da ética republicana. Cavaco Silva não foi excepção. Não duvido que os presidentes da República que temos tido defendam a ética da República, mas daí a dizer-se que existe a ética republicana vai um passo demasiado largo. E no caso português perigosamente largo. Em primeiro e mais óbvio lugar porque não é o facto de o regime ser republicano ou monárquico que o torna mais ou menos ético. Portugal é uma república e a Suécia e a Holanda monarquias, mas no que à ética da vida política e pública respeita temos muito a invejar aos súbditos de Carlos Gustavo e de Beatriz. Em segundo lugar esta associação entre a ética e a natureza republicana do regime envenenou-nos todo o século XX e ameaça-nos o XXI, pois incapazes que somos de dissociar a ética da República esquecemo-nos da primeira para não nos malquistarmos com a segunda. A nossa incapacidade de debatermos o regicídio, a noite sangrenta ou, no pós 25 de Abril de 1974, a descolonização resultam em grande parte desta atávica associação entre a natureza do regime e a ética da sua classe dirigente. Onde estava em Novembro de 1975 a ética dos militares e políticos portugueses que, como relata Leonor Figueiredo no seu livroFicheiros Secretos da Descolonização de Angola, deixaram para trás nas prisões e campos de concentração de Angola cidadãos portugueses que tinham sido raptados pelo MPLA?
Enquanto os factos menos nobres praticados na República, a corrupção e o falhanço da justiça, continuarem a ser vistos como notas de rodapé na exaltação mais ou menos folclórica da ética republicana, continuaremos reféns daquela divisão jacobina do mundo que envenenou a I República e que, de sinal contrário, se prolongou no Estado Novo, aí com a tentativa inversa de transformar em boa a ditadura com o argumentário da honestidade pessoal de quem a chefiava. A República que somos será mais ética não por ser república mas sim por ter entre os seus políticos e na sua administração quem não veja na condição republicana (tal como outrora o viram na condição monárquica ou em "ser da situação") um atestado de impunidade.Ensaísta
Todos os dias (mas mesmo todos) nas televisões nacionais somos brindados logo pela manhã com a descrição de mais uma doença. Um especialista da dita explica-lhe os sintomas. Inevitavelmente em seguida opivot de serviço confronta o clínico com a ignorância lusa sobre o que fazer para combater tão desatinado mal. Tivesse eu tempo e faria um quadro com aquilo que todos os dias, nos diversos canais, se recomenda para que se tenha uma vida saudável. Felizmente não tenho tempo, mas pasmo com a girândola contraditória de coisas que supostamente nos colocariam eternamente jovens e saudáveis. A avaliar por aquilo que ali é dito, os carteiros ou as Testemunhas de Jeová que fossem simultaneamente vegetarianos seriam as mais belas e saudáveis pessoas da Terra, pois não só andam vários quilómetros por dia como têm uma alimentação que, não sendo completamente saudável - nestes programas nunca nada é completamente saudável -, anda lá muito perto.
Dadas as recentes notícias sobre os malefícios dos vegetais e a sua falta de certificação por comparação com os queijos e os gelados, dentro de algum tempo lá estarão a mandar-nos comer empadão de queijo com gelado de atum com a mesma arreigada certeza com que agora nos mandam comer tarte de espinafres.
Mas convenhamos que o pior não é isto. Já é muito mauzinho quando, sobretudo perante as doenças oncológicas, invocam a vontade de viver do doente e a importância de não se deixar derrotar pela doença. É pasmoso que todo e qualquer esforço de segurança dos países se tenha de travestir de acção humanitária, mas a um pobre mortal que acontece ter cancro exige-se-lhe que qual comando combata a doença e não se deixe vencer, transformando-se assim qualquer nova metástase num sinal de derrota e não de doença. Mas o pior mesmo acontece quando as doenças versam os jovens, sobretudos os jovens que têm problemas. Inevitavelmente surge a pergunta sobre a culpa. E mais ou menos inevitavelmente ainda a pergunta sobre a culpa vai dar à mãe. Porque trabalha fora de casa. Porque não percebeu a tempo o problema do filho. Porque não soube actuar. Porque não disse as palavras certas. Porque disse as palavras certas poucas vezes. Porque não conseguiu dar um espaço ao jovem... Não há paciência! Este discurso da culpabilização das famílias e sobretudo das mães acabará algum dia, mas até lá inferniza a vida a muita gente, sobretudo àqueles e àquelas que procuram fazer o melhor possível.
Campanha autárquica em que os candidatos não falem extremosamente do comércio local não é certamente campanha autárquica. Provavelmente a única excepção a tal mandamento será a ilha do Corvo, mas mesmo assim é melhor não dar o benefício da dúvida. Estas passagens dos candidatos pelos estabelecimentos do dito comércio local e tradicional têm qualquer coisa de romagem de agravados: os comerciantes dizem que o comércio vai mal e os candidatos defendem mais apoios para que passe a ir menos mal. No ar e às vezes nos microfones ficam algumas acusações às grandes superfícies. Enfim, temos de reconhecer que nesta matéria todos mentimos um bocadinho: primeiro os comerciantes, porque, durante décadas, deram a clientela como garantida e devidamente almofadados pelas baixas rendas que pagam pelos seus estabelecimentos deixaram de se preocupar com a rentabilidade do negócio; depois os clientes que dizem que adoram fazer compras a pé no comércio local, mas que na verdade o único local onde se avistam carregados de sacos é no parque de estacionamento das grandes superfícies e por fim os candidatos, que o mais que sabem é exigir que o governo, qualquer que ele seja, dê mais apoios ao dito comércio, esquecendo que as autarquias complicam de forma muito assinalável a vida aos comerciantes. Por exemplo, o custo de licenciamento de uma obra pode ser, em algumas autarquias de Portugal, muito superior àquilo que a obra propriamente dita custa. (Existem até autarquias que anunciam aos potenciais interessados em fazer obras que praticam taxas de licenciamento mais elevadas que Lisboa, como se essa carestia correspondesse a um grau invejável de cosmopolitismo.) E não estou a falar da construção de um edifício, embora também aí os custos administrativos pesem cada vez mais nos orçamentos, tal como a Ordem dos Engenheiros tem denunciado. Basta, por exemplo, numa loja do tão amado comércio local querer transformar a área de atendimento ao público integrando-lhe uma parte que até esse momento fazia parte do armazém, para que, em muitos municípios, o dito comerciante rapidamente perceba que ou faz as obras clandestinamente ou desiste de as fazer, pois as taxas de licenciamento têm um custo exorbitante. Aliás, uma das coisas mais irritantes no discurso do amor ao comércio local são as referências às cidades europeias onde existem pequenas e simpáticas lojinhas porta sim, porta não. Em boa verdade esquecem-se tais improváveis amantes de dizer que não só em Portugal tais espaços não passariam no crivo da ASAE e doutras actividades de inspecção, como a facilidade e rapidez com que nessas paragens se transformam espaços de habitação em comércio e vice-versa pressupõem que tudo aquilo é licenciado a custos e em prazos muito diversos dos praticados em Portugal. Na verdade, não é uma questão de dar ou não dar, mas sim de não complicar. Por exemplo, acabando este texto a tarde e a más horas, já não tenho o supermercado de sempre aqui ao pé de casa, porque as exigências duma instalação eléctrica orçada em milhares de euros levou a que os interessados desistissem. E quanto a peixe é melhor ir também desistindo, porque a ASAE e a sua fixação no aço inox afugentaram aqueles que se dispunham a transformar uma antiga padaria numa peixaria.
Dadas as recentes notícias sobre os malefícios dos vegetais e a sua falta de certificação por comparação com os queijos e os gelados, dentro de algum tempo lá estarão a mandar-nos comer empadão de queijo com gelado de atum com a mesma arreigada certeza com que agora nos mandam comer tarte de espinafres.
Mas convenhamos que o pior não é isto. Já é muito mauzinho quando, sobretudo perante as doenças oncológicas, invocam a vontade de viver do doente e a importância de não se deixar derrotar pela doença. É pasmoso que todo e qualquer esforço de segurança dos países se tenha de travestir de acção humanitária, mas a um pobre mortal que acontece ter cancro exige-se-lhe que qual comando combata a doença e não se deixe vencer, transformando-se assim qualquer nova metástase num sinal de derrota e não de doença. Mas o pior mesmo acontece quando as doenças versam os jovens, sobretudos os jovens que têm problemas. Inevitavelmente surge a pergunta sobre a culpa. E mais ou menos inevitavelmente ainda a pergunta sobre a culpa vai dar à mãe. Porque trabalha fora de casa. Porque não percebeu a tempo o problema do filho. Porque não soube actuar. Porque não disse as palavras certas. Porque disse as palavras certas poucas vezes. Porque não conseguiu dar um espaço ao jovem... Não há paciência! Este discurso da culpabilização das famílias e sobretudo das mães acabará algum dia, mas até lá inferniza a vida a muita gente, sobretudo àqueles e àquelas que procuram fazer o melhor possível.
Campanha autárquica em que os candidatos não falem extremosamente do comércio local não é certamente campanha autárquica. Provavelmente a única excepção a tal mandamento será a ilha do Corvo, mas mesmo assim é melhor não dar o benefício da dúvida. Estas passagens dos candidatos pelos estabelecimentos do dito comércio local e tradicional têm qualquer coisa de romagem de agravados: os comerciantes dizem que o comércio vai mal e os candidatos defendem mais apoios para que passe a ir menos mal. No ar e às vezes nos microfones ficam algumas acusações às grandes superfícies. Enfim, temos de reconhecer que nesta matéria todos mentimos um bocadinho: primeiro os comerciantes, porque, durante décadas, deram a clientela como garantida e devidamente almofadados pelas baixas rendas que pagam pelos seus estabelecimentos deixaram de se preocupar com a rentabilidade do negócio; depois os clientes que dizem que adoram fazer compras a pé no comércio local, mas que na verdade o único local onde se avistam carregados de sacos é no parque de estacionamento das grandes superfícies e por fim os candidatos, que o mais que sabem é exigir que o governo, qualquer que ele seja, dê mais apoios ao dito comércio, esquecendo que as autarquias complicam de forma muito assinalável a vida aos comerciantes. Por exemplo, o custo de licenciamento de uma obra pode ser, em algumas autarquias de Portugal, muito superior àquilo que a obra propriamente dita custa. (Existem até autarquias que anunciam aos potenciais interessados em fazer obras que praticam taxas de licenciamento mais elevadas que Lisboa, como se essa carestia correspondesse a um grau invejável de cosmopolitismo.) E não estou a falar da construção de um edifício, embora também aí os custos administrativos pesem cada vez mais nos orçamentos, tal como a Ordem dos Engenheiros tem denunciado. Basta, por exemplo, numa loja do tão amado comércio local querer transformar a área de atendimento ao público integrando-lhe uma parte que até esse momento fazia parte do armazém, para que, em muitos municípios, o dito comerciante rapidamente perceba que ou faz as obras clandestinamente ou desiste de as fazer, pois as taxas de licenciamento têm um custo exorbitante. Aliás, uma das coisas mais irritantes no discurso do amor ao comércio local são as referências às cidades europeias onde existem pequenas e simpáticas lojinhas porta sim, porta não. Em boa verdade esquecem-se tais improváveis amantes de dizer que não só em Portugal tais espaços não passariam no crivo da ASAE e doutras actividades de inspecção, como a facilidade e rapidez com que nessas paragens se transformam espaços de habitação em comércio e vice-versa pressupõem que tudo aquilo é licenciado a custos e em prazos muito diversos dos praticados em Portugal. Na verdade, não é uma questão de dar ou não dar, mas sim de não complicar. Por exemplo, acabando este texto a tarde e a más horas, já não tenho o supermercado de sempre aqui ao pé de casa, porque as exigências duma instalação eléctrica orçada em milhares de euros levou a que os interessados desistissem. E quanto a peixe é melhor ir também desistindo, porque a ASAE e a sua fixação no aço inox afugentaram aqueles que se dispunham a transformar uma antiga padaria numa peixaria.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
O gajo
O gajo
Helena Matos
O termo "gajo" dá conta do que Cavaco Silva tem sido em Portugal: uma espécie de intruso
Não sei se, como contam os seus próximos, Mário Soares ainda se refere nestes termos a Cavaco Silva. Mas é importante esclarecer que chamar-lhe "gajo" não me parece nada depreciativo, tanto mais que o termo "gajo", na fulanização que tem implícita, dá conta daquilo que Cavaco Silva tem sido em Portugal: uma espécie de intruso, um tipo com quem volta e meia se esbarra e que suscita quase sempre uma pergunta meio irritada: "Mas o que quer este gajo?"
É preciso que se perceba que o espaço do poder governamental é em Portugal naturalmente socialista. Não por uma qualquer malfeitoria dos socialistas, mas sim porque foram os socialistas os grandes vencedores políticos e morais do momento que fundou os compromissos do regime, o 25 de Novembro de 1975. O socialismo que o PS prometia aos portugueses pareceu-lhes tão paternalmente bondoso quanto o Estado social anunciado por Marcelo Caetano, com a vantagem acrescida de se livrarem de que alguém os dissesse de direita ou estalinistas, pois se ser de direita permaneceu como algo de pejorativo, já ser de esquerda, desde que daquela esquerda delimitada pelo PS, tornou-se um traço distintivo pela positiva. A isto que já de si não é nada pouco juntou-se a extraordinária mais-valia da aristocrática concepção do poder do pater familias dos socialistas portugueses, Mário Soares. Ver Soares a deslocar-se é talvez o que temos de mais próximo com o que terá sido a naturalidade aristocrática com que D. Carlos devia passear em Vila Viçosa. Mas Soares não trouxe para os socialistas portugueses apenas a concepção de que o poder lhes é naturalmente devido, cultivou-lhes o espírito de corte: há um séquito que lhe repete as graças, as conversas com os grandes do mundo, a maravilha dos quadros que lhe ornamentam as casas, a grandiosidade da biblioteca e, não menos importante, reage ao primeiro sinal de crítica àquele que definem como "pai da democracia". Aliás, uma das características mais comuns ao PS português é essa noção enraízada de família. Não por acaso o PS foi durante anos um partido de famílias cujos apelidos em muitos casos remontavam à I República e onde, ao contrário do que sucedia nas outras formações políticas à direita e à esquerda do PS, os filhos, desde a mais tenra infância, se reviam e revêem ideologicamente nos pais.
Por isso um dos momentos mais simbólicos das últimas eleições é aquele em que Soares terá passado, segundo a definição da propaganda do PS, o testemunho a Sócrates, lançando oslogan "Sócrates é fixe", adaptação desse outro "Soares é fixe" que fixa o momento em que Soares além de fixe foi também feliz e vencedor. É óbvio que Sócrates não é fixe - coisa que está longe de ser defeito! - e Soares não ignorará que aquele que definiu como seu sucessor não acerta uma única vez quando tenta falar dos livros que diz que leu ou dos filmes que diz que viu. Mas o testemunho que passou de Soares para Sócrates nada tem a ver com os gostos ou com as ideias, mas sim com a concepção do poder como coisa da sua gente.
Naturalmente, Cavaco não tem um partido assim atrás de si (o que sendo uma notória fraqueza em momentos como o actual foi também o traço que lhe permitiu chegar a Presidente da República) e de alguma forma ele e Guterres foram os únicos que até agora ousaram enfrentar este statu quo: Cavaco porque não se coibiu de ganhar eleições aos socialistas e Guterres porque não fez tudo o que estava ao seu alcance para manter os socialistas no poder, acabando por se demitir. Por isso, do ponto de vista "rosa", Cavaco nunca passará de um gajo e Guterres de um traidor. Quanto a Guterres, só o futuro dirá em que medida o PS lhe perdoará o pecado original de ter deixado o poder. O presente, esse, acontece entre o PS e o gajo. Ou mais institucionalmente falando, entre o Governo e a Presidência da República. Ou, se se preferir dar nomes às coisas, entre Sócrates e Cavaco Silva. Cavaco, que tem o imenso orgulho dos tímidos, aposta sobretudo em que a razão lhe será reconhecida à posteriori, como aconteceu com o Estatuto dos Açores. Resta saber se Cavaco ainda tem tempo, pois na relação com os outros poderes não basta a um Presidente da República denunciar os seus motivos de indignação, como bem perceberia Cavaco Silva se lesse o discurso de renúncia que um Presidente da República, o general Spínola, redigiu nesse mesmo Palácio de Belém num dia 29 de Setembro, não de 2009 mas sim de 1974. É necessário que o Presidente da República, qualquer que ele seja, tenha consciência do seu tempo de acção. Coisa que Soares teve quando percebeu que podia avançar contra o então primeiro-ministro Cavaco Silva e que teve sobretudo Jorge Sampaio naquele arco temporal que vai do momento em que deu posse a Santana Lopes até àquele instante em que o demitiu. Para já Cavaco tem razão no essencial e Sócrates tem o tempo (e a corte) a seu favor. Mas nada disto é suficiente para saber quem vai ganhar e sobretudo para que o país confie nas instituições. Jornalista
O director do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), Elísio Summavielle, propôs que o Museu do Côa albergue também arte contemporânea, dado que as própria gravuras do Côa são arte. Logo veio a Associação dos Arqueólogos Portugueses contrapor que "colocar arte contemporânea no Museu do Côa é desvirtuar o objectivo para o qual foi criado o museu". Como já não estamos em 1994 o país não fica tolhido quando ouve o verbo desvirtuar e muito provavelmente o Museu do Côa terá também arte contemporânea, antiga, moderna... Enfim, terá o que sucessivamente se for achando necessário para levar as pessoas àquele espaço, que, por si só, se arrisca a ser mais um elefante branco ou mais arqueologicamente falando um auroque branco. Recordo que em 1994 se anunciava que 300 mil turistas iriam anualmente rumar a Foz Côa para conhecerem as ditas gravuras. O país então achava-se tão rico que deitou alegremente fora o dinheiro já investido na barragem. Alguém que questionasse a desmesura deste êxtase místico com as inscrições do Côa e o desprezo por aquelas outras que simultaneamente eram submersas em Alqueva era tratado no mínimo como troglodita. No Côa apareceram poucos turistas e não consta que algum deles tenha aconselhado a experiência a quem quer que fosse.
Na míngua de turistas encomendaram-se filmes que foram justificados como a derradeira tentativa de chamar a atenção internacional para o Parque Arqueológico de Foz Côa e construiu-se o museu. Dada a desmesura da coisa - o Museu do Côa será o segundo maior de Portugal, logo a seguir ao de Arte Antiga, em Lisboa -, o óbvio tornou-se incontornável: o que vai lá para dentro que justifique uma viagem até ali? Arte contemporânea, diz o Igespar Por mim creio que poderiam também dedicar uma sala ao dogmatismo e às manobras de propaganda. Com o próprio processo do Côa já tinham material que lhes chegasse.
Na míngua de turistas encomendaram-se filmes que foram justificados como a derradeira tentativa de chamar a atenção internacional para o Parque Arqueológico de Foz Côa e construiu-se o museu. Dada a desmesura da coisa - o Museu do Côa será o segundo maior de Portugal, logo a seguir ao de Arte Antiga, em Lisboa -, o óbvio tornou-se incontornável: o que vai lá para dentro que justifique uma viagem até ali? Arte contemporânea, diz o Igespar Por mim creio que poderiam também dedicar uma sala ao dogmatismo e às manobras de propaganda. Com o próprio processo do Côa já tinham material que lhes chegasse.
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