quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Bons Conselhos

Bons conselhos
Rui Moreira

2008 - 12- 01

Em Portugal, o cargo de ex-ministro, seja dos governos Cavaco seja dos outros, é o mais bem recompensadoO Presidente da República veio falar sobre boatos que o associariam ao caso BPN. Estranhei, porque nada ouvira e também porque é invulgar que um órgão de soberania emita comunicados para garantir a sua probidade. Horas depois, Cavaco diria que "um Presidente não deve comentar em público questões de Estado e eu não faço comentários em público sobre membros do Governo, chefes militares, deputados ou embaixadores". Mas logo voltaria a terreiro para anunciar que obtivera de Dias Loureiro a garantia solene de que nada fizera que comprometesse a sua condição de conselheiro.
O Presidente é um homem de inquestionável honorabilidade e seriedade, na qual os portugueses depositam total confiança. Mas tem um estilo crispado e uma pose majestática que complica o seu desempenho e, apesar da justeza de grande parte das suas intervenções, como foi o caso no Estatuto dos Açores e no tema do divórcio, aparenta ter um problema com os seus compagnons de route que, em certas circunstâncias, fragiliza o seu sentido de Estado. Depois da sua vacilante visita à Madeira e da sua tíbia actuação no caso do deputado regional, voltou a acontecer o mesmo neste episódio.
E, se já não se livrava da imprudência de ter escolhido, para o Conselho de Estado, alguém que, sendo uma excelente pessoa, tinha ligações a um banco sobre o qual se ouviam, há anos, estranhas histórias, agora, ao aceitar e avalizar as garantias solenes deste, assume o ónus pleno por tudo o que corra mal. Além disso, acabou por ser ele próprio a fomentar o boato, ao falar num assunto que não era tema de suspeita e, ao personalizar a questão, coloca sob pressão o seu velho amigo e conselheiro.
Admito que Cavaco se aflija pelo facto de alguns dos seus pares, que penaram nos seus governos com modestos salários, estarem hoje milionários. E não se tratou do milagre das rosas ou das laranjas, nem consta que tenham tido sorte na lotaria, como já foi reclamado por um outro vulto da nossa democracia. De facto, alguns deles beneficiaram deste banco, que agora ruiu. Mas creio que a feliz coincidência que atinge tantos membros da ínclita geração que levou para os seus governos não o deve perturbar. Afinal, em Portugal, o cargo de ex-ministro, seja dos seus governos seja dos outros, é o mais bem recompensado.
O problema, infelizmente, é que esta entourage lhe causa, agora, bastante transtorno e não o aconselha bem. Segundo o próprio, "neste momento difícil que Portugal atravessa, exige-se que um Presidente da República tenha o máximo de bom senso e ponderação e que saiba muito bem aquilo que deve fazer e aquilo que não deve fazer, tendo em conta as suas competências constitucionais, aquilo que deve dizer em público e aquilo que só deve dizer em privado". É isso mesmo, afinal, que o Presidente não tem sabido fazer.
É nestas alturas que um estadista deve saber escolher a quem ouvir. Se escutar o conselho sério e leal do seu indefectível Paulo Rangel e as palavras corajosas de Morais Sarmento, o Presidente compreenderá o que deve fazer e o que não pode fazer. Afinal, é tudo uma questão de conselheiros... Economista

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