quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Começa o degelo?

Li no "El País" de sábado passado um artigo de opinião da autoria de José Vidal-Beneyto que me fez reflectir sobre o estado do mundo na actualidade. Vou tentar reproduzir parte desse texto, numa tradução livre, feita por mim, do castelhano para português.
Aqui vai:
"O neo-liberalismo levou a desigualdade a limites intoleraveis e a exibição do luxo mais agressivo"
O afrontamento totalmente antagonigo com a prática e os resultados do neo-liberalismo actual, que levou a desigualdade a limites insuportaveís e criou um confronto dramático entre a cupula das empresas e os seus quadros médios e até superiores.
As avultadíssimas remunerações dos Presidentes dos grandes grupos, as suas «almofadas financeiras», e todas as retribuições auferidas que se foram dotando criaram um clima de nepotismo e abusos que geraram os lamentaveis escândalos em que se viram envolvidas as princiapis empresas do mundo económico-financeiro. Limitando-nos a França, Georges Pebereau, um dos principais empresários daquele pais, presidente durante largos anos da CGE, o maior grupo industrial francês e na actualidade presidente honorário da Alcatel (número um mundial no sector das telecomunicações, denunciou as práticas de Phillippe Jafré na ELF, Antoine Zacharias na Vinci, Daniel Bernard no Carrefour e Jean-Noel Forgeard na EADS, que levaram a palma, ou o ouro como queiram, dessa desenfreada competição de "sem vergonhice empresarial".
Estes caudais de dinheiro fácil consequência do dominio financeiro da vida económica, vieram acompanhados da provocatória exibição do luxo mais agressivo que encontramos na pueril profusão de "quem tem o iate maior e mais luxuoso" a sua mais ofensiva expressão.Quando grande parte da população dos paises em desenvolvimento tenta sobreviver com um ou dois doláres diários e necessita de quatro ou cinco horas para ir buscar a sua ração diária de água, os nossos exultantes multimilionários desafuam-se no campo dos palácios flutuantes: o Emir do Dubai com o seu barco com o mesmo nome (falta de imaginação) de 160 metros, piscinas, sala de squash, ginásio, helicopetro e submarino; os super ricos russos Andrei Melnichenko, de 36 anos, com um super iate de 165 metros, e Roman Abramovich, de 41 anos, que já não lhe baasta a diversão futebolistica, o Chelsea FC, e a sua frota de unidades navegantes, está agora a construir um super iate de 170 metros, o Eclipse, com vidros anti-balas (porque será? Terá algo a temer o rapaz???), detecção anti-missil, duas pistas de helicopetros, três piscinas (então, vai para alto mar nadar na piscina!!???) cristais Baccarat...
A esta insultante ostentação de sumptuosidade teríamos que juntar tantos outros disparates, entre as quais as elevadas cotações de obras de arte contemporanea, como os 140 milhões de euros que se acabam de pagar na Sotherby´s por uma parte da produção de Damien Hirst.
A crise mexicana de 1995, asiática de 1997, russa de 1998, argentina de 2001, e a da nova economia de 2000, bem como a crise do subprime começada no Verão de 2007 e que continuamos a viver, eram previsiveis e provam a falta de visão deste desbocada capitalismo liberal. Sistema que alimenta a politica dos Bancos Centrais, lançados na produção do dinheiro-crédito, que quando chega o desastre, do Northern Rock no Reino Unido e do Bear Stearns, do Fannie Mae, do Freddie Mac e ultimamente da AIG (maior seguradora do mundo) nos Estados Unidos.
Alguém que sabe do que fala, George Soros, aquele que com a saida da libra esterlina do "concerto" monetário europeu ganhou num só dia 1.ooo milhões de doláres, acusa os arautos do neo-liberalismo financeiro de mentirosos e manipuladores e assegura no seu livro The New Paradigm of Financial Markets que o sistema actual está próximo do fim. Começou, pois, o degelo?
Dá que pensar...

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