quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Barack ganhou mais um combate para repôr ordem nos EUA...

É o Público que o diz...
Eleições EUA 2008
Barack Obama consolida vantagem no segundo debate presidencial

O candidato republicano à Casa Branca, John McCain, precisava de um momento especial para sacudir a pressão e alterar a dinâmica da corrida presidencial, que pende (e desde as últimas duas semanas significativamente) para o seu adversário democrata Barack Obama. O segundo debate televisivo acabou por não ser esse momento, e a sua tarefa começa a ficar cada vez mais complicada.
A oportunidade era perfeita e o formato era o ideal para o “comeback” de John McCain: por causa da “obrigação” de recuperar terreno e por ter reclamado a realização de dez debates de “townhall”, McCain estava em vantagem por ser o “especialista” deste tipo de eventos e gozava de maior compreensão e tolerância para sair ao ataque.Ironicamente, o “townhall” acabou por funcionar melhor a favor de Barack Obama. Principalmente por uma questão de imagem e percepção: estilisticamente, o democrata foi muito mais dinâmico (é injusto, é certo, mas McCain pareceu mais velho e tolhido de movimentos), mais composto e mais confiante. E depois por uma questão de retórica: Obama, elogiado pelos seus dotes oratórios, nunca foi brilhante mas foi de facto melhor do que McCain em termos de clareza na exposição das suas posições e argumentos.O estado do país é diferente, a corrida presidencial está diferente e por causa disso as expectativas antes do confronto eram muito diferentes daquelas de há pouco mais de uma semana. Mas no final, o segundo confronto acabou por ser muito igual ao primeiro, sem “gaffes”, sem revelações, sem novos elementos para o debate político.Mais uma vez voltaram a ser discutidos os mesmos assuntos e a ser evidentes as mesmas diferenças entre os dois: na política fiscal e orçamental, na abordagem ao papel do governo e da iniciativa privada, nas questões internacionais e no projecto que têm para a América. E mais uma vez voltou a ser aparente o “desdém” de McCain pelo seu opositor, e a cautela (talvez mesmo frieza) de Obama na interacção com o republicano.Como acontecera no primeiro debate, Obama foi mais forte na economia e McCain na política externa — embora, em qualquer dos casos, um candidato tenha “esmagado” o outro. O democrata não mudou de estratégia: apresentou-se como aquele que melhor compreende e que tem mais soluções para a classe média, e associou McCain às políticas falhadas da Administração Bush sempre que teve oportunidade.A abordagem de John McCain também não se distinguiu muito da sua prestação no debate do Mississípi: esteve talvez ligeiramente mais agressivo contra Obama, questionando a sua experiência e o seu julgamento, embora sem recorrer à nova estratégia de assassinato de carácter que a sua campanha ensaiou nos últimos quatro dias (em discursos e anúncios que acusam Obama de ser desonroso e mentiroso).Outra vez, o confronto arrancou com a economia, com perguntas muito concretas sobre em que medida o plano de resgate de Wall Street aprovado pelo Congresso e promulgado pelo Presidente Bush funciona a favor do cidadão comum, ou então como seriam ordenadas as prioridades em termos de saúde, energia ou Segurança Social.Duas novidades nas respostas de McCain. A primeira tem a ver com a sua sugestão de que o milionário Warren Buffet (um apoiante de Obama) ou Meg Whitman, a fundadora do eBay (que anteontem despediu 10 por cento do seu pessoal) poderiam dar bons secretários do Tesouro. A segunda tem a ver com um novo plano de estabilização dos preços do mercado imobiliário, que passará pela compra de hipotecas executadas pelo governo — não só não se percebeu exactamente o que era, como pareceu contraditório com a proposta de congelamento das despesas federais.Previsivelmente, Obama repetiu que o seu programa prevê um corte na carga fiscal de 95 por cento das famílias americanas. Mas desta vez o democrata insistiu num tema que também está no topo das preocupações dos americanos: o acesso à saúde. “É um direito”, defendeu o senador, quando perguntado sobre se a saúde era um direito, um privilégio ou uma responsabilidade (que foi o que McCain disse). “Temos um compromisso moral e um imperativo económico para resolver esse assunto”, sublinhou.Foi a melhor resposta de Obama ao longo da noite: nos gráficos que registam a reacção dos espectadores às palavras dos candidatos, as linhas bateram quase nos 100 por cento. Pelo contrário, tinham caído quando McCain admitiu que em termos de reforma da Segurança Social, “não será possível manter as mesmas regalias que os trabalhadores gozam actualmente”.Antes do final, Obama soube transformar duas críticas de McCain em oportunidades para “desequilibrar” o seu oponente. Foi na parte dedicada à politica externa, quando o republicano voltou a dizer que há muitas coisas que o democrata não entende. “Tem razão, não entendo porque invadimos um pais que não teve nada a ver com os ataques terroristas de 11 de Setembro”, reparou Obama.E na resposta a uma pergunta sobre o respeito pelas fronteiras do Paquistão no ataque a alvos da Al Qaeda: “Vamos matar Bin Laden, vamos eliminar a Al Qaeda”, sublinhou Obama. “Notável!”, reagiu McCain, denunciando a irresponsabilidade do senador que “gosta de anunciar que vai atacar o Paquistão. Temos de ter cuidado com a maneira como falamos”, aconselhou. Obama não deixou passar um segundo. “Eu sou o irresponsável? Não fui eu que falei em ‘Bomb, Bomb, Bomb’ o Irão ou em aniquilar a Coreia do Norte. E não era eu que, quando ainda não tínhamos acabado a missão no Afeganistão, já estava a dizer: próxima paragem Bagdad!”, atirou.Entre os espectadores do debate, a opinião prevalecente foi que Barack Obama se saiu melhor do que John McCain. A sondagem à boca da urna da CNN dava 54 por cento ao democrata e 30 por cento ao republicano, e revelava que os favoráveis de Obama subiram face aos desfavoráveis (as opiniões relativas a McCain mantiveram-se inalteradas). No inquérito da CBS News, 39 por cento apontavam a vitória a Obama, 35 por cento consideravam um empate e 29 por cento davam McCain como vencedor.No primeiro debate, e apesar das sondagens nomearem Obama como vencedor, o relativo equilíbrio entre os dois candidatos levou os comentadores a pronunciar um empate. Ontem, a prestação dos dois não esteve muito diferente, mas desta feita já não houve o benefício da dúvida: McCain tinha de ganhar e não ganhou. A corrida não mudou — e isso quer dizer que Obama está mais à frente.

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